CONTEXTOS DE VULNERABILIDADES À VIOLÊNCIA CONFIGURADOS NO CAMPO DE TRABALHO DE MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO
DOI:
10.24281/rremecs.2018.09.15.saspnufu1.13Palavras-chave:
Vulnerabilidade em Saúde, Violência, Profissionais do SexoResumo
Ao falar sobre prostituição, ao que parece, possuímos categorias explicativas prontas que dão conta do fenômeno, o que apenas o simplifica ou, o que é pior, o aprisiona em amarras sociais, políticas e morais que impedem uma compreensão correta dessa atividade. A prostituta, na sua condição de mulher, não escapa ao contexto de violência historicamente construído. No entanto, dada à concepção da sociedade de que a atividade que ela exerce é não só ilícita mas também moralmente reprovável, a expõe a uma violência ainda maior, nos ambientes em que exerce sua atividade. Objetivo: analisar as vulnerabilidades do contexto de trabalho, experimentadas por mulheres profissionais do sexo, no que diz respeito às violências sofridas no ambiente de trabalho. Método: O estudo constituiu-se de uma pesquisa de campo descritiva, por meio de uma abordagem quanti- qualitativa e realizada com 158 mulheres profissionais do sexo no Município de Uberlândia (MG). Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário estruturado e entrevistas audiogravadas. Os dados foram analisados pela estatística descritiva, pelo referencial metodológico de análise de conteúdo temática e referencial teórico de vulnerabilidade de Ayres. Resultados: Evidenciou-se que das mulheres profissionais do sexo participantes, a maioria relatou não ter sofrido nenhum tipo de violência, embora 34% tenham sido vitimadas. Destas, 85,2% alegam ter sofrido violência verbal, física (33%) e sexual (7,4%). Dentre os fatores associados, a sujeição de violência e o chefe como perpetrador, estão o grau de escolaridade (p=0,022; p=0,048), enquanto que a raça/cor esteve associada à violência física (p=0,023). Os componentes da vulnerabilidade social foram caracterizados pela violência de gênero, quebras na relação com clientes, práticas sexuais não acordadas e ambiente de risco. A vulnerabilidade individual foi compreendida por aspectos emocionais, cognitivos, comportamentais e percepção de risco frente às situações do ambiente de trabalho. Já a vulnerabilidade programática foi identificada nas situações de acesso aos dispositivos de saúde (programas de prevenção DST/AIDS) e serviços de segurança. Conclusão: Verificou-se que essas profissionais do sexo estão inseridas em contextos de vulnerabilidades, traduzidos em diversas formas de violência e perpetradores, e implicados em dimensões sociais, individuais e programáticas. Considerar a integralidade do cuidado nos elementos de vulnerabilidade para tratar as relações no exercício da prostituição exige um esforço como rompimento do que historicamente foi estabelecido, mas é base potencialmente transformadora para o cuidado ampliado e humanizado.
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